Futuro incerto divide opiniões
A crise afetou diversos setores da economia brasileira, mas, segundo especialistas, o food service sobreviveu bem à turbulência. Para 2016, as expectativas de alguns são otimistas diante das possibilidades de se reinventar e descobrir novas potencial
16/12/2015
A crise foi invadindo o País e aos poucos afetou praticamente todos os setores da economia. E no food service não foi diferente. Tanto a indústria fornecedora quanto os estabelecimentos tiverem que prestar mais atenção ao seu negócio, rever seus processos e enfrentar os desafios que surgiram a cada dia. Assim como as empresas, o consumidor também passou a otimizar seus gastos e a ser mais cauteloso em suas escolhas de compra. A concorrência ficou mais acirrada e garantiu espaço quem soube driblar os entraves com criatividade e persistência.
A economia brasileira vai fechar o ano com de seus piores déficits e a estimativa para o mercado food service é de um crescimento nominal de 7% e uma queda real de 3%, segundo projeções da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). A situação para o próximo ano ainda é incerta e divide opiniões. Enquanto uns receiam um 2016 pior, outros seguem otimistas e vislumbram uma melhora em breve, um ano ainda com desafios, mas melhor que 2015. “O setor food service foi um dos poucos que não foram afetados de forma tão agressiva pela crise econômica e política que o Brasil atravessa. A expectativa é que 2016 seja um ano melhor do que foi 2015, porém com a consciência de que também será um período muito desafiador e que exigirá um esforço redobrado dos nossos colaboradores para superarmos este momento conturbado”, avalia Alcides Braga, sócio-diretor da Truckvan.
Caio Toledo, diretor da W Food Service, concorda que, certamente não foi bom para o setor, entretanto, se compararmos o desempenho do restante da economia, não fomos tão mal assim, mas ainda não é o caso de uma retomada da economia para 2016. Entretanto, acredita que a crise não deve se aprofundar. “Ao mesmo tempo que o orçamento do seu consumidor diminuiu, ele continua tendo a necessidade de se alimentar fora de casa. Sendo assim, a única maneira para reduzir custo é buscar alternativas de alimentação mais baratas, o que vem sendo explorado de forma adequada por grande parte de nossos clientes, que vem adequando e formatando produtos para serem servidos a custos mais atraentes”.
Luiz Alberto Lampert Conde, diretor da Lutosa no Brasil, conta que foi um ano também complicado para a empresa, mas esperam, certamente, um 2016 melhor. “Ainda assim crescemos em volume e em valor, fruto da manutenção do padrão dos nossos produtos, apesar da desvalorização da moeda e competição focada apenas em preço. Fortalecemos os laços com nossos importadores/distribuidores, e introduzimos novos produtos no mercado. O ano de 2015 foi difícil, mas bastante positivo e produtivo. Cabe a nós, fornecedores, nos adaptarmos ao mercado e/ou,criarmos mercados e reforçar os laços com nossos parceiros”.
Já Beto Isaac, restauranteur do Arabesco, acredita que o mercado de gastronomia ficará ainda mais difícil e instável. “A minha expectativa é que o Brasil encontre uma solução imediata para diminuir a instabilidade. Quanto mais rápida for a solução das crises política e econômica, mais brevemente o mercado reagirá, as pessoas voltarão a consumir normalmente e o setor será novamente impulsionado”.
Com todas as dificuldades e desafios driblados e tantos outros a serem enfrentados, o mercado de alimentação fora do lar reage positivamente. “Eu acredito que não existe alternativa para quem deseja crescer melhor do que o otimismo. Quem não é otimista fica parado, e esta receita é infalível para o fracasso de qualquer empresa. Entretanto, é importante que não se confunda otimismo com tentar viver e acreditar em uma realidade que não existe. A crise é profunda e será amarga, mas aqueles que saírem dela a frente e fortalecidos terão uma oportunidade única”, afirma Caio Toledo.
Qual sua expectativa para 2016?
Beto Isaac, restauranteur do Arabesco
Provavelmente, o mercado de gastronomia ficará ainda mais difícil e instável. No entanto, acredito que o Governo deverá realizar alguma manobra para liberar dinheiro com o objetivo de equilibrar a situação. O ano de 2015, por exemplo, foi um período de desconfiança. As pessoas resolveram economizar mais e diminuíram assim o poder de compra. A minha expectativa é que o Brasil encontre uma solução imediata para diminuir a instabilidade. Quanto mais rápida for a solução das crises política e econômica, mais brevemente o mercado reagirá, as pessoas voltarão a consumir normalmente e o setor será novamente impulsionado.
Rita Poli, diretora de franquias do Big X Picanha
A rede espera um cenário econômico recessivo para 2016, porém acreditamos ter um crescimento moderado em função da abertura de algumas lojas.
Vivian Silva, executiva de Marketing Nacional da Rational Brasil
Considero o mercado de food service muito interessante, pois mesmo diante de um cenário econômico instável, se mantém ativo. Em 2016, o setor da alimentação fora do lar tem potencial para ter um grande ano, e é em momentos de instabilidade que temos que ter força total. Acredito no crescimento, e o papel da Rational será reforçar cada vez mais sua filosofia, de oferecer os máximos benefícios aos profissionais que trabalham em cozinhas profissionais, com equipamentos que proporcionam economias de energia, tempo e matérias-primas, e podem ajudar os estabelecimentos a driblar a crise.
Cintia Macedo, diretora de Marketing da Mult-Grill Express do Brasil
Estamos passando por tempos difíceis e mesmo com nosso país em crise o segmento food service segue em alta, continua crescendo e ainda há muitas oportunidades para 2016. A correria do dia a dia, as longas jornadas de trabalho e o tempo livre cada vez mais restrito na vida dos brasileiros impulsiona o setor. Empreender na área alimentícia é um excelente negócio, mas exige inovações, investimentos, qualidade e criatividade. Em meio a esse futuro promissor, a Mult-Grill começa o ano com diversas novidades. Estará apresentando ao mercado equipamentos diferenciados, de alta tecnologia, facilidade na utilização e limpeza.
Eduardo Kiko Katecare, proprietário do Kaizen Japanese Food
Acredito que no próximo ano haverá uma melhoria para o mercado, especificamente a partir do segundo semestre por conta de eventos que serão realizados no país, como as Olimpíadas, por exemplo. É importante acreditarmos que tudo se manterá estável.
Jorge Torres, diretor de franquia da China House
Hoje com o PIB negativo em mais de quatro pontos percentuais e com uma projeção de mais dois pontos percentuais negativos para 2016, o cenário não vai ser favorável para a maioria das empresas assim como não está sendo em 2015. Mas no nosso negócio em específico, em 2015 estamos sentindo a retração econômica como a maioria, mas longe de ser algo que vá afetar e causar demissões no nosso dia a dia. Foram feitos ajustes sim, claro é necessário e às vezes é nesse ponto onde as empresas demoram para agir e quando acordam pode ser tarde.
Imaginamos que 2016 será um pouco melhor que 2015, e arrisco a projetar um crescimento em torno de 4%, sendo essa uma projeção extremamente conservadora e apostando que o cenário político comece a se alinhar e tenhamos algumas alternativas definidas para conter e saldar os buracos gerados, minimizando a insegurança no mercado atual.
Luiz Alberto Lampert Conde, diretor executivo da Lutosa do Brasil
Reforçar os laços com nossos parceiros, agregando produtos diferenciados para que a capilaridade das parcerias seja agente na criação de novos mercados. Só não espera otimismo quem não tem o que agregar ao mercado. Não tememos crises, ao contrário, elas nos ajudam a melhor nos dimensionar.
Laura Borzani, pâtissier e empresária da Bombas de Chocolate
Minhas perspectivas para o futuro são muito boas apesar da situação em que a economia do país se encontra. Devo acrescentar uma linha de salgados de receitas francesas e acrescentar novos produtos com o mesmo tema, além de mudar a loja para um espaço maior. Vou continuar investindo para apresentar produtos novos de ótima qualidade. Futuramente pretendo abrir novas lojas.
Adriana Auriemo, diretora da Nutty Bavarian
Na minha opinião, o cenário para 2016 será ainda pior. Acredito que mais pessoas perderão o emprego e, conforme a “ficha cair”, o consumo também sofrerá. Somando isso ao aumento dos impostos e a este medo que todos nós estamos do que vai acontecer com nosso país, 2016 será um ano bem desafiador. Temos que ter muita criatividade, disciplina e foco. Não dá para ter desperdício, nem de produto, nem de recursos e nem de tempo.
Georgea Henriques, empresária e proprietária do D’autore restaurante de Campinas
A expectativa para 2016, principalmente quando falamos no mercado gastronômico, é muito boa, pois, apesar da crise pela qual o país está passando, este é um momento de ajustes para o empreendedor brasileiro. Frente a isso, os profissionais que forem criativos, inovadores, oferecerem qualidade e se reestruturarem de maneira adequada, são aqueles que ganharão destaque. Portanto, consigo enxergar muitas oportunidades de crescimento para o ano que vem, especialmente no segundo semestre.
Rafael Barros, mestre pâtissier, professor e empresário da Opera Ganache
São muitas expectativas para 2016. Pretendemos levar nossa marca aos grandes shoppings da capital. Com isto, projetamos crescimento de 30% das vendas. Para fábrica, iremos inaugurar também uma loja local e estabelecer parcerias com buffets, restaurantes e supermercados. Na Opera Ganache Formação Profissional iremos lançar programas de seis meses a um ano de duração, com enfoque em confeitaria, chocolateria e artísticas (esculturas de açúcar, chocolate e pastilhagem). A escola pretende promover excursões didáticas a regiões de plantação de cacau e feiras internacionais
Alexandre Saber, sushiman e empresário do Sassá Sushi
O Sassá Sushi trabalha com quatro vertentes: restaurante, escola, delivery e eventos. Para o próximo ano, temos pretensões para todos. Estimamos aumentar nosso faturamento em 20% e para isso começaremos inaugurando dois novos restaurantes logo no primeiro semestre. Além disso, estamos estudando novos pontos de entrega para a ampliação do nosso delivery e fazendo parcerias com empresas para fecharmos turmas de aulas na Escola Sassá Sushi.
Laura Gaspari, proprietária da Dona Mesa
Como trabalhamos com o segmento de alimentação em casa, fomos beneficiados com o cenário da economia doméstica, já que comer fora se mostra uma despesa que a classe média reduziu neste cenário de crise. Para 2016, a meta da Dona Mesa é produzir o dobro do que produziu em 2015.
Eny Matos, dona do Cachorro-quente da Tia
Os economistas esperam ainda mais recessão para o próximo ano, mas isso não quer dizer que este vai ser um ano ruim para abrir novas empresas. Eu fundei a lanchonete Cachorro-quente da Tia, por exemplo, em um momento que precisava ajudar nas despesas da casa e ela acabou virando a principal fonte de renda da família. Para conquistar o sucesso, é preciso prestar atenção no que está fazendo, ter vontade de trabalhar e se preocupar em servir os clientes muito bem. Esqueça os problemas e foque 100% no trabalho. Só assim uma empresa consegue crescer em meio à crise econômica.
Caio Toledo, diretor da W Food Service
Não podemos esperar uma retomada da economia para 2016, entretanto, acredito que a crise não deve se aprofundar. Será um ano de aprendizado e que deve ser utilizado para autoconhecimento das empresas, já que não acredito em um crescimento de novos projetos com a velocidade que vinham ocorrendo. Entretanto, existirão sempre as oportunidades que se têm em crises, onde o pessimismo de alguns players faz com que alguns ativos sejam sub precificados.
Sergio Arno, chef do La Pasta Gialla
“Eu acho que o final de ano vai dizer bastante coisa sobre como será o próximo ano, estamos contando com a chegada do 13º na economia. Quem costumava guardar dinheiro do 13º para janeiro e fevereiro dificilmente fará. Existem problemas sérios na política, esta crise é a pior. Antes roubava-se também, era pouco, e ninguém sabia. Eu tenho certeza que 80% do setor de restaurantes está endividado, isto é, sem dinheiro para retirada, somente para sobreviver, pagar as contas. Há muitas demissões, nós mesmos precisamos enxugar equipe, e não foi para ganhar dinheiro, mas sim conseguir manter a mesma estrutura. Entregamos escritório, readequamos salários.
Suelen Ferrari e Debora Tesoto, sócias da Davvero Gelato
Acreditamos que as empresas devem investir e se manter para passar por esse período de crise que o Brasil está vivendo, por isso a expectativa para 2016 na Davvero é expansão da marca, com nova(s) unidade(s) da loja e abranger ainda mais o mercado de food service e eventos corporativos, casamentos e aniversários.
Francisco Sant´Ana, mestre sorveteiro e empresário da Escola Sorvete
Acredito que mesmo com a crise, o setor ainda deva crescer ao menos 15% no ano de 2016. Por incrível que pareça, ainda consumimos pouco sorvete em relação aos nossos vizinhos (Argentina e Chile) e as pessoas estão descobrindo cada dia mais sobre o prazer de comer sorvete. Aqui na Escola Sorvete estamos ampliando nossos horizontes. Temos dois contratos internacionais para 2016. Sempre investimos na prática do uso de produtos naturais e até lançamos uma campanha para o fim do uso da gordura vegetal hidrogenada, super utilizada no Brasil.
Alcides Braga, sócio-diretor da Truckvan
A expectativa da Truckvan para 2016 em relação ao mercado de food trucks é manter-se como uma referência neste segmento e investir em tecnologia de ponta e organização para aumentar a produtividade e fazer parcerias com instituições renomadas para reforçar e consolidar sua marca, além de participar de feiras e eventos fora do estado de São Paulo para estreitar sua relação com empreendedores e entregar cada vez mais restaurantes sobre rodas para outras cidades.
Douglas dos Anjos, responsável pela expansão da DNA Natural
O mercado econômico, pela perspectiva do Franchising Brasileiro, caminha na contramão da crise atual. Se compararmos o segmento ao PIB com crescimento zero, o franchising registrou crescimento de 15% no primeiro semestre do ano, sendo o setor de alimentação o mais expressivo da categoria. O espírito empreendedor dos brasileiros e a busca cada vez maior pelo sistema de franquias como opção de modelo de negócios ajuda no crescimento e consolidação das marcas.