Fi South America 2022 discute o futuro dos alimentos, com mais sustentabilidade, mais tecnologia e menos desperdícios

Maior plataforma de conexão entre fornecedores de ingredientes e a indústria de alimentos e bebidas aborda tendências como plant-based, upcycling e novos marcos regulatórios. Experiência segue em ambiente virtual

17/08/2022

Fi South America 2022 discute o futuro dos alimentos, com mais sustentabilidade, mais tecnologia e menos desperdícios

 

Faltava um ingrediente para completar o momento otimista vivido pela indústria de alimentos e bebidas. Não falta mais. A principal plataforma na América Latina para a conexão do setor com fornecedores de ingredientes, a Food ingredients South America (FiSA) voltou a ser realizada pela Informa Markets em sua plenitude -- na verdade, em um formato ainda mais inovador, graças a uma nova proposta figital (físico + digital). Entre os dias 09 e 11 de agosto, a 24ª edição do evento reuniu mais de 10 mil participantes no São Paulo Expo, oferecendo conteúdo de alta qualidade e oportunidades de negócios e networking. Quem não pôde comparecer ao pavilhão teve a chance de conferir transmissões online na plataforma digital Fisa Xperience.

“O clima foi incrível. Registramos corredores, estandes e auditórios cheios, e colhemos inúmeros relatos de pessoas felizes só por poder voltar a frequentar o evento. A vontade dos profissionais do mercado em reviver um encontro tão tradicional, somada a todas as transformações no cenário da alimentação, resultou numa edição de altíssimo nível. Muitos expositores comentaram conosco sobre a qualificação do público, formado por executivos de alta influência nos departamentos de procurement e inovação”, comenta Diane Coelho, Gerente de Negócios da FiSA. 

Entre as transformações referidas pela executiva está o boom dos alimentos e bebidas plant-based (à base de vegetais). Se no passado eles já foram produtos de nicho, reservados a vegetarianos e veganos, cada vez mais rumam ao mainstream. Pesquisas apontam que mais de 40% dos consumidores em todo o mundo buscam moderar o consumo de carnes, lácteos e demais produtos com ingredientes de origem animal, porém sem riscá-los de suas dietas. É o fenômeno definido como flexitarianismo.

 

Experiências à base de vegetais

Segundo levantamento do The Good Food Institute (GFI), 49% dos brasileiros já buscam reduzir o consumo de produtos de origem animal. E 85% demonstram propensão a experimentar produtos plant-based. De acordo com a Euromonitor, as vendas desses itens no Brasil avançaram quase 70% em cinco anos. A rápida mudança de hábitos e de preferências à mesa, em nome da própria saúde ou da saúde do planeta, tem movimentado a indústria e incentivado empresas de alimentos e bebidas a diversificarem suas ofertas.

Há anos a FiSA debate essa incontornável tendência e, de olho nela, preparou uma atração especial: a Plant-Based Experience. O espaço combinou palestras de especialistas, apresentação de novos produtos e demonstrações de receitas com chefs, sempre com foco na alimentação à base de plantas.

“Os consumidores, de fato, têm buscado um equilíbrio entre a saudabilidade dos alimentos e o impacto sobre o meio ambiente. Os produtos plant-based parecem se conectar a esse anseio e, por isso, tanto a demanda como a oferta têm crescido”, afirmou Mônica Simão, Customer Success Manager da Mintel, responsável por conteúdos apresentados no espaço. “Como obstáculos para uma alta ainda maior, podemos mencionar restrições financeiras e uma desconfiança com relação ao sabor”.

Algumas estratégias já têm sido aplicadas para superar essas barreiras. Ante as restrições financeiras, supermercados têm lançado produtos plant-based de marca própria, normalmente mais baratos. Já para quebrar estigmas de sabor, as empresas têm caprichado nas embalagens ou mimetizado alguns campeões de popularidade, com doces, snacks e os já famosos hambúrgueres vegetais. O que não falta é inovação e lançamentos. 

Essa diversidade dos produtos veganos e plant-based pôde ser vista durante os três dias da atração. Houve espaço para panificação, confeitaria, moqueca, bebidas infantis e lácteas, e até mesmo feijoada com farofa de couve.

 

 

Marco regulatório para a categoria

O plant-based também foi um grande eixo do Summit Future of Nutrition, atração mais tradicional da FiSA. Dentre os painéis relacionados ao tema, um deles tratou da regulamentação dessa categoria de alimentos e bebidas, que está no radar do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Hugo Caruso, coordenador geral da Qualidade Vegetal do DIPOV (Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal) do MAPA, detalhou a consulta pública realizada na busca de subsídios para a elaboração de um marco regulatório. Patrícia Castilho, gerente geral de Alimentos da Anvisa, ressaltou que o plant-based precisa desse instrumento para que as empresas possam investir com segurança. “Vamos publicar o relatório das oficinas públicas e aprimorar o diagnóstico preliminar dos problemas regulatórios. Ainda existem algumas fases até termos o texto final”, ela explicou.

Como não poderia deixar de ser, ingredientes plant-based também sobressaíram entre as novidades apresentadas pelos expositores. Um dos destaques foi o VeCollal, bioidêntico de colágeno 100% vegano e com o mesmo perfil de aminoácidos encontrados no organismo humano, que começa a ser trazido ao Brasil com exclusividade pela Aunare.

 

Carne cultivada também em alta

Além do plant-based, as carnes cultivadas e fermentadas foram grandes temas da FiSA deste ano. Somados, os negócios de carnes alternativas receberam investimentos da ordem de US? 5 bilhões em 2021, um aporte anual recorde, segundo o GFI. Desde 2020, foram investidos quase US? 11,1 bilhões no setor, sendo US? 8 bilhões (73%) após o início da pandemia.

No dia 10 de agosto, representantes da JBS e da BRF participaram do Summit Future of Nutrition, detalhando os investimentos feitos em carnes cultivadas, focadas na produção a partir de células bovinas não modificadas geneticamente e até na impressão 3D dos alimentos. “Em pouco tempo os filés de carne cultivada serão realidade no mercado e na mesa do consumidor, substituindo as massas protéicas conhecidas atualmente”, previu Gary Brenner, diretor de desenvolvimento de mercado da startup israelense Aleph Farms, parceira de projetos da BRF.

A transformação digital dos processos de inovação da cadeia de valor de alimentos também foi fartamente debatida no congresso científico da FiSA. Painéis e palestras abordaram as contribuições que a Inteligência Artificial (IA), o machine learning e a ciência de dados têm proporcionado ao setor -- a exemplo de apoios na criação de novos sabores, texturas e até na aparência de produtos finais. “Não substituímos o ser humano, mas agregamos uma ferramenta que tem ajudado a acelerar o processo”, explicou Cynthia Pereira, diretora de R&D da NotCo.

 

Nova rotulagem nutricional e pós-bióticos

Prestes a entrar em vigor, a nova norma de rotulagem nutricional na parte frontal das embalagens de alimentos industrializados também ensejou palestras e soluções destacadas pelos expositores. Elaine Guaraldo, sócia-diretora da consultoria Vigna Brasil, conduziu uma apresentação sobre o tema no primeiro dia da FiSA.

No terceiro dia, Mauro Salvador, engenheiro de alimentos e gerente técnico da Ajinomoto, esmiuçou os esforços da empresa para diminuir o sal de carnes sem modificar o sabor e a consistência.

“Com menos sal a carne fica mais sujeita ao aumento de microrganismos. Também é preciso atenção para a estabilidade de emulsão em embutidos como a mortadela. Além disso, o produto que irá substituir o sal precisará manter ou reduzir as perdas das propriedades sensoriais como o sabor e o cheiro”, contou o especialista. Mauro falou ainda das tecnologias com o uso de aminoácidos, Umami e Kokumi, que são utilizadas pela Ajinomoto no esforço para reduzir o sódio nos alimentos.

Já Gabriel Vinderola, professor e pesquisador do Instituto de Lactologia Industrial da Argentina, brindou o público com uma apresentação sobre a evolução do conceito de pós-bióticos. Ele contou que, de 2013 a 2021, surgiram pelo menos seis conceitos desse tipo de ingrediente, o que tem causado controvérsia na comunidade científica e entre nutrólogos. “Para mim, umas das melhores definições é que pós- bióticos são células microbianas mortas ou não viáveis, fragmentos celulares que são naturalmente sintetizados por microrganismos probióticos no processo de fermentação ou em laboratório”, ele compartilhou com o público. “Trata-se de um campo promissor para iogurtes e outros lácteos com novas características funcionais”.

 

Sustentabilidade, um desafio inescapável

“Não podemos mais encarar a responsabilidade ambiental como algo para amanhã. Até porque, se não cuidarmos da mitigação dos impactos ao planeta em regime de urgência máxima, esse amanhã estará comprometido”, lembrou Clélia Iwaki, diretora do portfólio de Alimentos & Bebidas da Informa Markets, na plenária que, na manhã de 9 de agosto, deu o pontapé inicial no Summit Future of Nutrition.

A indústria de alimentos e bebidas tem grande responsabilidade nesse sentido: uma estimativa da FAO-ONU (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) aponta que o sistema alimentar é responsável por 34% das emissões globais de gases de efeito estufa. O plant-based, proteínas cultivadas e o upcycling (reaproveitamento de subprodutos agroindustriais em novos alimentos para nutrição humana e animal) podem contribuir para reduzir esse índice, ajudando também a promover, em longo prazo, um melhor manejo de recursos ambientais (uso de terra e água, por exemplo).

Ademais, uma visão mais sustentável no setor pode contribuir para erradicar a fome no mundo. Na FiSA, Gustavo Chianca, representante assistente no Brasil da FAO-ONU, salientou que não falta comida no mundo -- a produção é maior do que a demanda. “Mesmo assim, existem cerca de 800 milhões de pessoas em insegurança alimentar e podemos chegar a um bilhão de famintos dentro de cinco ou seis anos”, disse. Entre os motivos do problema estão o desperdício e as perdas ao longo das cadeias de abastecimento, que também foram temas de sessões do Summit.

A sustentabilidade não esteve somente nos conteúdos e nas ofertas dos expositores, mas permeou todo o evento. A Informa Markets utilizou na FiSA credenciais de papel, materiais impressos com certificação FSC (Conselho de Manejo Florestal) e incentivo à devolução pelos visitantes, na saída do pavilhão, das bags de plástico recebidas na entrada, para reutilização em outros eventos, entre outras ações. Além disso, a organização priorizou o uso de iluminação de LED, de maior eficiência energética, incentivou o uso de transporte público e as caronas solidárias para redução de gases, promovendo ainda coleta seletiva de orgânicos e recicláveis. Outra ação de destaque foi a parceria com a Fruta Imperfeita para a distribuição aos convidados de frutas com alguma imperfeição visual, normalmente descartadas pelo mercado mesmo estando totalmente aptas para o consumo. 

 

Padaria escola

Como ação de responsabilidade social, a FiSA abriu espaço para a Padaria Escola Tiãozinho. Trata-se de um projeto que tem como objetivo oferecer capacitação profissional à população do bairro de Americanópolis, na capital paulista, de modo a inserir pessoas no mercado de trabalho.

Coordenada pela Safrater, organização da sociedade civil (OSC), a iniciativa compreende cursos de aperfeiçoamento para a produção de bolos, salgados, doces, pães e chocolates em uma padaria própria, com foco na geração de renda. A Safrater tem a parceria do Senai -- que disponibiliza os professores, fornece insumos e ingredientes, e certifica os alunos -- e da Informa Markets

 

New Product Zone: uma vitrine de tendências e novos produtos

O New Product Zone, atração dos três dias da FiSA, se propôs a ser uma janela para o futuro. Para tanto, o espaço contou com uma vitrine de produtos inovadores, de grandes marcas e do mundo todo, e com palestras sobre tendências de consumo e de comportamento. O objetivo foi inspirar os visitantes a repensar o portfólio de suas empresas e construir novas estratégias.

As palestras foram ministradas por profissionais da Mintel, empresa global de pesquisas de mercado. Os temas selecionados chamaram a atenção pela diversidade: de snacks, food service e metaverso a bem-estar e alimentos à base de plantas.

 

Raquel Logato, client success manager da Mintel, por exemplo, falou sobre como a indústria de alimentos pode se associar a hábitos de bem-estar de maneira menos convencional. Pontos como saúde mental e sexual, além do equilíbrio entre vida profissional e pessoal, têm ganhado relevância e podem ser vistos como oportunidades. Segundo Raquel, alguns produtos já têm explorado essas novas vertentes, como bebidas hidratantes e snacks práticos que podem ser compartilhados -- inclusive com os pets. Marcas também têm incorporado discursos de auto expressão e auto aceitação, e buscado se conectar com consumidores que anseiam por hábitos saudáveis, apesar do pouco tempo disponível.

“A pandemia trouxe o bem-estar para o centro da vida das pessoas. Elas têm buscado mais produtos e serviços que, de alguma forma, compensem e suavizem um dia estressante, sobrecarregado e difícil”, disse.

Outras atrações que enriqueceram a experiência na FiSA este ano foram o Technology Bootcamp by Intercompany, espaço dedicado à interseção entre a indústria de alimentos e a tecnologia; o 1º Hub Regulatório, curso organizado pelas empresas Regularium e Meta Regulatória para ensinar os fornecedores a homologar ingredientes na lista positiva da Anvisa; e o Lounge Choco & Coffee by Prova, que ofereceu uma variedade de sabores e inovações em bebidas à base de café, chocolate, choco bomb e biscoitos com extratos e aromas brown notes, além de mascaradores em produtos proteicos.

 

Satisfação do público

Avaliações positivas predominaram entre os visitantes. Sirlei Costa, proprietária de uma empresa de trading, visitou a FiSA para fazer novas conexões, olhar as novidades e se inteirar das inovações no setor de alimentos. “A minha empresa tem escritórios nos Emirados Árabes e na China. E nós viemos conhecer alguns produtos específicos, como o óleo de girassol em pó da Alibra”, afirmou.

Para Bruna Medeiros, coordenadora da Casa dos Aromas, a inovação também foi o que mais a atraiu. “Vim à FiSA para conhecer as novidades e estabelecer contato com alguns fornecedores, além, é claro, de estreitar os negócios”, disse.

 

Relatos dos expositores

“Foi gratificante participar mais uma vez do evento, que é referência para o mercado em que atuamos. A FiSA é um ponto de encontro consolidado, em que interagimos com os clientes e apresentamos as nossas soluções de uma forma especial. Recebemos visitas importantes ao longo dos três dias, capazes de alavancar negócios por meses e, tomara, muitos e muitos anos”, afirmou Sandra Lucchetti, coordenadora de marketing para a América do Sul da GELITA.

Clarice Nagata, coordenadora de contas da U.S. Dairy Export Council (Conselho de Exportações de Lácteos dos EUA), compartilhou opinião similar. “A feira foi muito boa. Estávamos com um pouco de receio em razão da pandemia, mas o público superou as expectativas. Serviu tanto para fortalecer relacionamentos que já tínhamos -- na América Latina, o face to face é muito importante -- como para conhecer novas empresas e gerar novos negócios. O setor de alimentos não para, sempre busca a inovação e o crescimento”.

 

Transmissões online

Quem não pôde comparecer ao pavilhão São Paulo Expo teve a oportunidade de acompanhar alguns takes da FiSA por meio da plataforma digital FiSA Xperience. Além de assistir às transmissões na plataforma, o público teve a chance de entrar em contato com os expositores e de conferir os conteúdos do Warm Up, evento digital de aquecimento da feira híbrida.

Mesmo com o encerramento do evento híbrido, os profissionais da indústria poderão continuar a desfrutar de conteúdos exclusivos, incluindo momentos do Summit Future of Nutrition, na plataforma FiSA BrainBox.

 

Sobre a FiSA

A Food ingredients South America, a mais tradicional plataforma de inovação da indústria alimentícia da América Latina, oferece uma série de eventos presenciais e digitais para conectar líderes e gerar negócios. As conexões realizadas nesse encontro são responsáveis pelo desenvolvimento de produtos que fazem parte da transformação da vida de milhares de consumidores no mundo.

A FiSA adota o conceito digital, ou seja, integra suas atrações entre o mundo físico e digital, com conteúdo ao vivo e disponibilizado em plataforma sob demanda, para oferecer a congressistas, visitantes e expositores mais oportunidades e maior flexibilidade.

 

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