Falta de água pode reduzir em até 30 por cento faturamento de restaurantes
Mesmo sem estar decretado, racionamento em São Paulo é o maior medo do empresário que atua com a venda de alimentação e bebida
29/10/2014
Com o nível dos reservatórios que abastecem a grande São Paulo em queda, os bares e restaurantes poderão amargar queda no faturamento de até 30% no resultado deste ano. A tendência é que isso piore, caso o racionamento seja oficializado em novembro.
"Desde o começo deste ano temos feitos reuniões entre conselheiros e empresários do setor, para discutir a questão da falta de água em São Paulo", explicou ao DCI o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (AbraselSP), Percival Maricato.
Segundo o especialista, uma das iniciativas da entidade foi procurar a Companhia de Saneamento Básico (Sabesp) para que, juntos, promovessem a criação de uma campanha de conscientização sobre o uso racional da água. "Nós procuramos a Sabesp para identificar como a abordagem [da campanha] seria feita. A empresa desenvolveu um material explicativo, que foi distribuído aos donos de bares e restaurantes", disse Maricato.
O material tem cunho explicativo e foi criado tanto para a conscientização dos funcionários, quanto para a dos frequentadores. "O material da Sabesp foi colocado nas cozinhas, nos salões e nos banheiros, para que as pessoas possam se atentar ao problema. Se todos conseguirem economizar, o prejuízo será menor", afirmou ele.
Prejuízo
A estimativa da Abrasel é que os empresários tenham queda no faturamento em até 30%. "Para evitar isso eles estão engajados. Teve local que adotou o uso de copo descartável e aumentou a caixa de água, entre outras medidas. Tudo para que possam evitar um prejuízo na operação".
O próximo passo será ampliar o número de estabelecimentos que receberá o material para tentar economizar água. "O segundo passo do projeto é levar a conscientização aos empresários do interior de São Paulo", concluiu.
Racionamento
O governo do Estado de São Paulo afirma que o racionamento está descartado, mas o sistema Cantareira, que abastece boa parte da Região Metropolitana, sofre com a maior estiagem da história. Para minimizar o problema, a Sabesp fará o bombeamento de 28 bilhões de litros da primeira reserva técnica ou volume morto, mas isso não resolverá o problema hídrico que o Sudeste se encontra.
"Nós criamos diversas iniciativas e até bonificação para os funcionários da loja que mais economizar água. Mas, se houver racionamento, não tenho como afirmar o que será feito", disse, ao DCI, o sócio da rede Sucão, de Campinas (SP), Filipe Falcão.
Para o empresário, a rede não deverá ficar sem água por atuar em shopping center, logo a administração desses espaços têm responsabilidade compartilhada com todos os lojistas. "Se acabar a água teremos de comprar caminhão-pipa para nos abastecer", explicou Falcão.
Economia
Nas cinco lojas da rede, metas foram traçadas para economia de água. "Colocamos aeradores [controlador] nas torneiras. A lavagem das lojas que antes era feita com a mangueira, passou a ser feita com balde", explicou o executivo, complementando que "só com essa medida, a economia de água chega a 30% em uma loja".
Falcão explicou que a maior preocupação - mesmo com a compra de água, seja em galões ou caminhão-pipa -, é com a lavagem dos liquidificadores. "Sem a pressão da água, a limpeza do equipamento que faz o suco será prejudicada".
Investimentos
Ampliar a capacidade de armazenamento da caixa de água está nos planos da proprietária da unidade dos Jardins do L' Entrecôte de Paris, Eloisa Elena Carneiro. "Em uma análise com os demais estabelecimentos da região, eu percebi que eu era a que tinha o menor reservatório. Como não podemos ficar sem água, já estou tomando as medidas necessárias", disse ela.
Eloisa afirmou que na última semana levou um susto ao ver as torneiras de seu restaurante secas. "Tive que contratar um caminhão-pipa para o restaurante funcionar no período da noite", explicou. O incidente ocorreu no final de semana, período em que o fluxo de pessoas é maior.
Segundo Eloisa, desde o começo do ano ela sentiu a necessidade de reduzir o gasto da água para evitar ficar sem. "Antes dessa crise se instalar lavávamos as mesas que ficam na calçada três vezes na semana. Essa frequência diminuiu", explicou a empresária.
No Akbar Lounge Disco, localizado na Vila Madalena, a medida também será o aumento da caixa de água. "Temos três caixas que armazenam seis mil litros. Estou tentando adaptar mais duas de cinco mil litros", afirmou o dono do espaço, Zenildo Silva.
O empresário diz estar sofrendo com a falta de água há um bom tempo. "Temos comprado carros- pipa, pois eles cortam a água num sábado à noite e só retomam o fornecimento no domingo".
Questionado sobre a persistência do problema, Silva foi enfático ao dizer que pode vir realmente a fechar as portas. "Não tenho faturamento para comprar água toda semana. Afinal, já estão cobrando R$ 1.800 por caminhão." Fonte: DCI Online