Culinária Armênia
Apesar do País ainda ser desconhecido por muitos, parte de sua gastronomia, como esfihas e quibes, é bastante familiar para os brasileiros, já que se assemelha à cultura da Arábia e demais nações do Oriente Médio
24/02/2015
Neste ano, os armênios rememoram o genocídio que exterminou mais de um milhão e meio de pessoas e foi responsável pela deportação de milhares mais para o Brasil, que trouxeram na bagagem sua cultura e forma de cozinhar.
“Estando à procura de onde viver, passaram por muitos países até que, finalmente, alguns chegaram nos portos brasileiros, no caso da minha família por volta de 1927. Sem falar a língua do País e desconhecendo os costumes, procuraram se alimentar da mesma forma habituada em sua terra natal ou pelo menos da forma mais próxima possível, o que exigiu algumas adaptações. Entre avós, pais, tios e primos, nós éramos em onze pessoas residindo na mesma casa. Assim como nós, as famílias costumavam ser numerosas, e eram as mulheres mais velhas que comandavam o preparo das refeições, que são bem trabalhosas, com muito carinho. Era comum todas, sogras, noras e filhas, participarem desse preparo e a refeição era “o acontecimento, uma grande reunião da família”, relata Claudia Semerdjian Desgualdo, proprietária do restaurante e delivery Tia Armênia – Cozinha Artesanal.
Adaptações e semelhanças com outras culturas
Claudia explica que, inicialmente, os imigrantes que aqui chegaram preparavam uma comida pesada para o clima brasileiro, com o uso exagerado de gorduras, como banha de porco, o que foi sendo corrigido. “Hoje, foi substituída por manteiga ou margarina devido à divulgação dos malefícios do excesso de gordura à saúde, a adaptação ao clima do Brasil e à própria assimilação da cultura brasileira”.
Alguns pratos são bastante conhecidos e consumidos pelos brasileiros, como esfiha, quibe e charuto, difundidos pela cultura árabe, que se disseminou mais intensamente pelo mundo. As gastronomias dos países do Oriente Médio são semelhantes de fato, assim como a música, a dança e outras tradições.
A diferença entre as culinárias armênia, síria, turca e libanesa é praticamente o tempero. “O quibe cru armênio (Tchi-Kiofté) tem uma particularidade que nas outras gastronomias não tem. É servido com Rãimá, uma carne moída refogada com cebola e salsinha e/ou hortelã. O quibe cru de lentilha ou ervilha é tipicamente armênio, não existe na Arábia, Turquia ou Síria. O Sarmá (charuto) existe nesses outros países, mas não o Zeitli Sarmá (sem carne), porque ele foi criado para quaresma, tem um cunho religioso, especialmente cristão”, explica a proprietária do Tia Armênia.
Apesar de serem povos inimigos e viverem em guerra entre si por séculos, compartilham de culturas e tradições semelhantes, não somente na gastronomia. Assim como na Arábia, pratica-se a dança do ventre, além de alguns rituaisde outros povos, como a quebra de pratos em casamentos com o intuito de trazer sorte aos noivos, assim como é feito também na Grécia.
Na armênia e entre seus descendentes a religião é muito forte e influenciadora de roupas e decoração, a exemplo do Khatchkars, uma cruz esculpida na pedra de forma rendilhada. O País foi o primeiro a adotar cristianismo e tem hoje mais de duas mil igrejas para uma população de três milhões de pessoas. A região é dotada de belas paisagens, com destaque para o Monte Ararat, onde, segundo a Bíblia, teria encalhado a Arca de Noé. O símbolo da Armênia hoje está sob o domínio da Turquia.
O café e a sorte
Segundo relato do padre Der Yeznig, o café entrou na Armênia através dos mercadores na época em que as forças armadas de Roma passavam próximas da Armênia. A leitura da borra do café é uma tradição milenar do Oriente e consiste em decifrar grafismos criados pela borra do café quando virada e desvirada a xícara, uma vez que o café não é coado. Claudia esclarece que o café armênio é torrado e o seu processo de moagem o torna um pó bem fino, justificado pelo fato de não ser coado ao se tornar uma bebida.
“Tradicionalmente, na Armênia, servir café fazia parte da educação do anfitrião e significava dar as boas vindas ao visitante. Era usual os pais do futuro noivo irem até a casa da noiva por eles escolhida para pedir a mão desta. O café então era servido aos visitantes. Se a família da noiva concordasse com o pedido, o café era servido adoçado, caso contrário, o café era servido sem açúcar, o que dispensava o constrangimento de ter que ouvir uma negativa”, conta a empresária.
Os imigrantes armênios quando aqui chegaram não encontravam a lentilha para fazerem o prato de quibe de lentilha (que nada mais é do que um quibe cru sem carne e com lentilha). Passaram, então, a usar a ervilha como substituto, e hoje se come com ambas.
Bulgur Pilaf
É o nome do arroz de trigo grosso lavado e frito na manteiga com cebola e tomate (opcionais) por alguns minutos e cozido no caldo de galinha.
Kiofté
Aqui chamado de quibe, é uma massa homogênea preparada de trigo, carne bovina moída e sal. Trabalha-se para dar uma forma alongada ao mesmo. É recheado com carne bovina moída refogada com cebola. Uma variação é acrescentar nozes a esse recheio. Este pode ser cozido ou frito.
Homus
Pasta feita com grão de bico, azeite, molho tahine e alho.
Pilaf
Como se chama o arroz branco cozido em caldo de galinha e misturado ao macarrão cabelo de anjo previamente refogado na manteiga.
Dolmá
Abobrinha recheada com uma mistura de arroz, carne bovina moída, tomate e temperos. Recheia-se também berinjela, pimentão e batata.
Chamado no Brasil de charuto de folha de uva. Existem três variantes de Sarmá: com folha de uva, repolho ou couve, recheados com carne moída e arroz. O Zeitlí Sarmá é o mesmo prato sem carne, recheado apenas de arroz, tomate e temperos, com folha de couve ou acelga, muito usado na época de quaresma ou para vegetarianos que apreciam a comida armênia.
Bastermá
É o nome dado ao carpaccio de carne seca bovina dos amênios. Essa carne vem recoberta por uma camada pastosa de cor vermelha e que contém um tempero chamado Tchemén, de odor e sabor fortes. Foi descoberta por conta da guerra. Carregada entre a cela e o corpo dos cavalos, foi sendo salgada e desidratada pelo suor do animal.
São barquinhos de massa recheados de carne. Existem duas versões de Mantã: assado (alinhados de forma a parecer uma mandala ou até mesmo casinhas de abelha) ou cozido em caldo vermelho. A versão assada pode ser comida com coalhada fresca com alho e caldo vermelho sobre o prato.
Chartmá
Abobrinha refogada com ovo.
Jajik
Coalhada com pepino em pedaços e hortelã.
Babaganouche
Patê de beringela com molho tahine e alho.
Bebidas
Ararat
Conhaque aromatizado com anis. A Armênia é conhecida como um dos países mais tradicionais na produção do conhaque e, inclusive, é vencedora de alguns prêmios internacionais.
Arak
Cachaça da bagaceira da uva. Tem forte teor alcoólico.
Airam
Coalhada com água, gelo e sal.
Doces
Pahlavah
Mais conhecido como doce sírio, é um folheado recheado com pistache ou nozes e caramelizado.
Gatnabur
Arroz doce, sobremesa típica armênia.
Mamoul
Uma bolacha com massa tipo mantecal recheada, geralmente, com nozes .