Crise hídrica expõe vulnerabilidades
Para bares e restaurantes, momento exige investimentos para racionalização de recursos
05/03/2015
As dificuldades relacionadas ao fornecimento de água e energia neste começo de ano devem servir de alerta a pequenas e médias empresas para a importância da sustentabilidade. O recado é de Luiz Barretto, presidente do Sebrae. Segundo ele, o tema deve estar no centro da agenda do século 21, já que medidas como otimização do uso da água, eficiência energética e descarte correto de resíduos são fundamentais para a saúde das empresas, para o enfrentamento de conjunturas adversas e para maior produtividade e competitividade. "Quem já adotou práticas e tecnologias para isso está na frente. O enfrentamento da crise gera oportunidade de modernização."
O problema que atinge mais o Sudeste expôs fortemente as PMEs, já que 51% dos pequenos negócios brasileiros ficam na região. São Paulo sedia cerca de um terço do total, que responde por 48% dos empregos formais no Estado e dos quais 78% atuam com comércio e serviços.
Alguns setores são particularmente sensíveis à água, como lavanderias, lava jatos, bares e restaurantes. O Sindicato Intermunicipal de Lavanderias do Estado de São Paulo (Sindilav) chegou a prever crescimento de 25% para o setor entre 2011 e 2016, mas viu os negócios encolherem 5% nas lavanderias domésticas e 10% nas industriais em 2014.
Segundo o presidente José Carlos Larocca, as cerca de 9,3 mil lavanderias do país faturam em torno de R$ 7 bilhões, dos quais R$ 4,5 bilhões movimentados pelos 6 mil negócios sediados em São Paulo, metade no segmento doméstico. A maioria, 90%, emprega menos de dez funcionários e nem todas podem usar recursos como lavagem a seco. Um exemplo é o segmento hospitalar, que demanda até quatro banhos em cerca de 350 toneladas diárias. "Reciclagem de água, água de reúso e poços artesianos estão entre as alternativas", diz Larocca.
As pequenas também são maioria na alimentação fora do lar, onde 99% de 1 milhão de empresas são enquadradas no Simples. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) também vê a modernização como arma para sobrevivência. Mas com limites. Para o presidente executivo Paulo Solmucci Jr, caso seja adotado rodízio com suspensão do fornecimento de água cinco dias seguidos, a opção dos negócios do setor é fechar as portas um ou dois dias por semana.
Em 2014, o setor movimentou R$ 40 bilhões, 8% mais que em 2013. Como as contas de água e luz consomem em média 10% dos gastos de um restaurante, Solmucci Jr crê que o momento exija investimentos para a racionalização de recursos, desde a compra de uma caixa d'água até maquinário para lavagem de pratos e copos e uso de produtos que não exigem enxágue para o chão. "A relação custo benefício é evidente", diz.
A indústria também se ressente da situação. Segundo levantamentos da Fiesp e da Ciesp, as regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas, cujas bacias foram mais afetadas, respondem por metade do PIB industrial paulista, com 38 mil indústrias - as empresas de pequeno porte, com até 99 empregados, representam 95% do setor industrial paulista.
A entidade assina o Prêmio de Conservação e Reúso de Água, que destaca iniciativas como a da Antares Reciclagem, criadora de processo de recuperação da solução de baterias automotivas. "Recuperamos 2,2 milhões de litros de ácido e reciclamos 22 milhões de litros de água por mês", diz o dono, Almir dos Santos Trindade.
Em outro setor sensível, o de hospedagem, o Spa Ventura, de Ibiúna (SP), nasceu com foco em sustentabilidade. Captação e tratamento de água pluvial atendem 80% das necessidades. Com 40 unidades equipadas com chuveiros, descargas e torneiras de baixa vazão, o investimento alcançou cerca de R$ 5 mil por unidade, diz o proprietário Alexandre Haberkorn. A energia é suprida por usina solar, que produz 4,5 mil Kw hora ao mês e custou R$ 500 mil.
Outra que nasceu sustentável é a nova sede da distribuidora e prestadora de serviços de outsourcing de impressão Reis Office. Inaugurada em Guarulhos (SP), em 2012, economiza energia com medidas como telhado térmico, iluminação natural e aquecimento solar para a cozinha dos 200 funcionários. Cerca de R$ 120 mil foram investidos em geradores a diesel.
A unidade capta 100% da água pluvial, com reservatório para 75 mil litros, e seus 40 banheiros são equipados com válvulas de duplo comando e torneiras com temporizador. As medidas exigiram investimento de R$ 80 mil, com retorno em quatro anos. Para amenizar o uso da água fornecida pela SAAE - o consumo total chega a 120 mil litros ao mês -, instalou redutores de pressão e arejadores nas torneiras. "O consumo caiu de 10 para 1,8 litros por minuto", diz o presidente José Martinho Reis. (Fonte: Valor Econômico Online)