Crescem os investimentos em food trucks, mas estacionar ainda é o problema do empresário

Demora nas licenças da Prefeitura de SP faz subir os preços dos espaços expositores; proprietários reclamam

28/10/2014

Crescem os investimentos em food trucks, mas estacionar ainda é o problema do empresário

Considerado como uma das modalidades mais promissoras no negócio de comida de rua, o food truck já desperta a cobiça do empresário, que investe na aquisição de veículos adaptados para a preparação e venda dos produtos, mas ainda esbarra em algumas questões essenciais para sua expansão.

 

A principal delas diz respeito a nada menos que os pontos de estacionamento dos caminhões e vans. Sem contar ainda com as licenças públicas expedidas pela Prefeitura de São Paulo, até agora a única a sancionar a lei que regulamenta a categoria no País, os empresários reclamam dos valores cobrados pelos até então raros parques privados de food truck da cidade. Relatos dão conta de espaços que chegam a cobrar R$ 2,5 mil para o estacionamento de um veículo no fim de semana.

 

O barista Alex Pereira roda há nove meses uma Kombi que serve café. Como a maior parte dos colegas, ele nunca atendeu o público em via pública, mas, sim, em espaços privativos.

 

No dia 30 de setembro ele participou com cerca de 60 outros empresários de uma reunião da Associação Paulistana de Comida de Rua. A entidade organizou o encontro para dar vazão a uma discussão que fervilhava entre os associados na internet: os preços crescentes praticados por alguns desses espaços. Para tentar resolver o problema, eles decidiram formar uma comissão para conversar com os donos dos espaços, explicando a situação. “Está todo mundo chateado com os preços que estão sendo cobrados”, explica Márcio Silva, do Buzina Foodtruck. “Sem os TPUs (termos de permissão de uso, concedidos pela Prefeitura), os food trucks ficaram enclausurados nesses parques”, destaca.

 

Para Daniela Narciso, fundadora do Butantan Food Park, a questão envolve uma regra de demanda e oferta. Para ela, muita gente decidiu entrar no mercado ao mesmo tempo. “Acredito que tem muito olho grande agora”, diz. “Da mesma forma como percebo que muitos trucks que chegam até mim com um plano de negócio insustentável, vejo também que há empresários que veem o sucesso dos nossos parques e feirinhas e tentam imitar. Eles acabam alugando espaços pequenos e caríssimos, mas não desenvolvem outras formas de arrecadação além de cobrar dos expositores”, observa a empresária que, neste momento, desenvolve um plano de expansão que dá ideia da ambição do setor: ela pretende abrir outros cinco espaços até o começo do ano que vem. Somente no Butantã, Daniela administra uma lista de espera de 100 nomes, entre barracas e trucks.

 

Enquanto os espaços privados crescem, os 900 pontos públicos liberados pelas subprefeituras no final de julho continuam vazios. Pior, a procura foi modesta, pouco mais de mil interessados. Devido a problemas na regulamentação da lei, entre elas a dificuldade em poder circular entre vários pontos pela cidade, os TPUs acabaram virando o plano B de muitos trucks. “Não dá para fazer plano de negócio com tanta burocracia e tantos senões pela frente. O melhor é aproveitar os espaços privados e eventos corporativos”, explica Celso de Oliveira, vice-presidente da Associação e um dos donos da Bumerangue, oficina especializada em adaptar os veículos para a operação de food truck.

 

O empresário, entretanto, adverte que esse momento não se sustenta no médio prazo. “Hoje todo mundo está ganhando dinheiro. Acho inclusive que existe um certo ágio nos preços por causa da novidade. Mas com o número de novos entrantes, isso deve mudar”.

 

Estima-se que hoje existam cerca de 60 food trucks na cidade, número que deve mais que dobrar se contarmos somente os pedidos na fila de espera ou em andamento em cinco adaptadoras de carros em atividade.

 

A dependência dos parques afeta especialmente os iniciantes, que precisam divulgar a sua marca, sem contar os impactos em empreendimentos com desembolso médio baixo, como é o caso do barista Alex Pereira, que cobra R$ 5 por um café. “Eu vendo 250 por saída. É irreal eu pagar R$ 500 só para expor.”

 

Raphael Corrêa, do Massa na Caveira, afirma que é preciso diálogo entre expositores e os donos dos espaços para encontrar uma solução para a questão. Até lá, ele acredita, é preciso encontrar formas de dividir os riscos entre as duas partes.

 

“Quem paga R$ 800 por dia entre sexta e domingo deixa quase R$ 10 mil em um mês para o dono do espaço. Com esse dinheiro, talvez fosse melhor alugar um imóvel, e é justamente desse custo que tentamos fugir quando montamos um truck”, ele diz. (Fonte: Estadão)

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