A escravidão e a feijoada

A história mais disseminada para a origem de um dos mais famosos pratos brasileiros é de que ele foi criado nas senzalas dos escravos, a partir de restos de carnes menos nobres. Porém, especialistas indicam que essa versão não passa de uma lenda

20/11/2014

A escravidão e a feijoada

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, foi instituído oficialmente pela lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. A data faz referência à morte, em 1695, de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na região Nordeste do Brasil.

 

A data de sua morte, descoberta por historiadores no início da década de 1970, motivou membros do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, em um congresso realizado em 1978, no contexto da Ditadura Militar Brasileira, a elegerem a figura de Zumbi como um símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos que seus descendentes reivindicam.

 

E quando associamos a cultura negra à gastronomia, logo pensamos na tão apreciada feijoada, um prato típico brasileiro, composto basicamente por feijão preto, diversas partes do porco, linguiça, farinha e o acompanhamento de verduras e legumes, comumente apontado como uma criação culinária dos africanos escravizados que vieram para o Brasil, a partir dos restos de carnes menos nobres dos portugueses, como o rabo, a orelha, a língua e o pé. Mas seria mesmo essa a história da feijoada?

 

Essas partes, na verdade, eram consideradas carnes nobres pelos europeus. Já os escravos, se alimentavam apenas de farinha e água, e dificilmente tinham acesso à carne. Existe na Europa, desde a antiguidade, um prato que varia de região em região, mas têm sempre como base a mistura de tipos diferentes de carne, com legumes e verduras, como por exemplo, o “Cassoulet” na França, o tradicional cozido em Portugal, o “Casoeula” na Itália, e o “Puchero” na Espanha. São os portugueses os responsáveis por trazer ao Brasil, a técnica e a combinação do cozido com carnes, que com o passar do tempo, e evolução dos costumes, foi acrescentado o feijão preto, criando assim a Feijoada.

 

O feijão preto é de origem sul-americana, e era parte da dieta dos índios nativos. Antes da chegada dos portugueses ao Brasil, já se conhecia na Europa diversas variedades de feijão, e era comum usar no preparo desses pratos, como o uso do feijão branco no “Cassoulet”. Portanto, a feijoada não é originalmente brasileira, e sim uma adaptação e evolução de uma cultura de berço europeu. Os acompanhamentos, como arroz, farofa, couve, laranja, torresmo e etc., foram acrescentados ao prato bem mais tarde. (Informações de Pedro Frade)

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