Negócios sazonais em tempos de crise
Proprietário de dois restaurante em Monte Verde, cidade turística de Minas Gerais que atrai nos meses de junho e julho, o empresário Nelson Neves Alves buscou alternativas para equilibrar as contas de seus estabelecimentos mesmo na baixa temporada
22/02/2016
Depois de uma experiência desagradável em 1998, quando faliu e teve que fechar as portas de sua lanchonete em Osasco (SP), Nelson Neves Alves trouxe os equipamentos que lhe restaram e estabeleceu-se em Monte Verde (MG). Montou, no ano seguinte, outro bar e lanchonete, onde posteriormente se desfez do mesmo para inaugurar o restaurante Trás os Montes, especializado na culinária portuguesa – pois é descendente de portugueses - e culinária mineira. Em 2007, observando que poderia atrair outros públicos, criou o Armazém Monte Verde Restaurante, focando a culinária alemã, italiana e brasileira, e implementou uma vasta gama de pratos e tipos de sucos, cervejas, vinhos e aperitivos. As casas foram crescendo e, com a situação do país mais favorável, mesmo faturando na alta temporada e muito pouco na baixa, conseguia se manter.
Investimento para driblar desafios
Para continuar com a preferência dos turistas que procuram o vilarejo, o empresário implementou algumas medidas para driblar a situação econômica que o país enfrenta. Mesmo com crise, o empresário conta que a última temporada, que vai de maio a julho, não apresentou queda representativa, mas que no verão o movimento é sempre menor. Para equilibrar os custos e a receita, afinal, precisa manter a equipe o ano todo e muitas das despesas são mensais, tem que gerenciar muito bem os rendimentos.
Entre as decisões tomadas, manteve os dois estabelecimentos abertos todos os dias, ampliou os horários de funcionamento, atendendo até o último cliente, e diversificou os pratos oferecidos, sem abrir mão da qualidade dos mesmos. Para atrair mais clientela e se diferenciar da concorrência maciça - afinal, em Monte Verde, como em outros cidades turísticas, há uma sequência de restaurante nas ruas centrais, que ficam repletas de turistas na alta temporada -, o restaurante oferece uma variedade que vai além do fondue, prato facilmente encontrado na região devido ao frio nos meses de maior movimento, como frutos do mar e opções mais baratas para quem não quer gastar muito. “Coloco sempre uma pessoa na porta para receber os clientes, já com o cardápio. Trazemos música de estilos variados, pop, rock, jantar dançante, para nos diferenciarmos”, conta o empresário.
Além do movimento irregular, um dos desafios de trabalhar em regiões turísticas é a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada e produtos de qualidade a um bom preço. “Para conseguir mais barato e mais fresco, compro frutos do mar em São Paulo duas vezes por semana na temporada, pois aqui os produtos são caros, com qualidade pior e muita coisa nem se acha. Mão de obra também é ruim na região, por isso, mantenho um alojamento para uma equipe que vem de outras cidades”, revela.
Para satisfazer a todos os perfis de clientes, mantém ambientes distintos para fumantes, outro para quem quer levar seu animal de estimação e uma área mais ampla com maior espaço livre entre as mesas para que as crianças possam brincar. Em um dos ambientes a televisão exibe jogos e lutas, no outro vídeos. Em períodos mais ociosos, como novembro e dezembro, oferece o serviço de buffet para festas, como de formatura. “No verão, que é baixa temporada, faço promoções de chopp e parceria com fornecedores. É bom pra gente que atrai clientes e para a empresa que divulga seu produto. Faço também parcerias com pousadas e divulgação pela internet”, afirma Alves.
Monte verde
No alto da Serra da Mantiqueira, a 30 km de Camanducaia (MG) e próximo a divisa de São Paulo com Minas Gerais, encontra-se um vilarejo acolhedor e com paisagens de tirar o fôlego dos visitantes que procuram a região. Monte Verde surgiu por volta de 1938 e, um de seus primeiros moradores foi um imigrante que veio da Letônia (antiga União Soviética), que se encantou com as paisagens que lembravam as da sua terra natal. Com o passar do tempo, amigos, familiares e conhecidos procedentes de diversos países da Europa - principalmente na época da guerra – imigraram e ali se instalaram.
De clima frio, com paisagens e construções de estilo europeu, o vilarejo recebe um grande número de turistas. O povoado está a 1.500 metros de altitude e longe das fontes poluidoras dos grandes centros urbanos. A alta temporada se dá nos meses de junho e julho, quando o inverno traz temperaturas próximas a 0º C ou negativas.